Ouço conservadores relacionando Satanismo à ideologia
progressista e ouço progressistas difamando o Cristianismo. Respeito os
pensamentos, mas acho que é mais complexo que isso. A disseminação de ideias
que relacionam coisas faz com que esta seja a realidade, mas não precisa ser
necessariamente. Como as próprias religiões mostraram, há diversos pontos de
vista sobre nossa existência e costumes. Existe também pessoas como eu que não
são conservadoras e nem progressistas, mas que tentam entender os
posicionamentos, tendo um olhar crítico tanto em pontos negativos como em
positivos.
Faço a reflexão através da análise do programa de rádio Morning Show do dia 25 de Janeiro de
2019. Um programa transmitido pela rádio Jovem Pan, pelo rádio e por seu canal
no Youtube. É um programa que aborda assuntos diversos e associo com o formato
em áudio de uma revista. Há um condutor do programa que apresenta assuntos e
notícias e pessoas ao seu redor para fazer comentários. Neste dia ocorreu uma
discussão entre o condutor, Edgard Piccoli, e um dos comentaristas, Caio Coppolla.
Edgard, como mediador do programa, tenta não demonstrar seu
viés ideológico, mas é possível perceber sua simpatia pelo pensamento
progressista. Já Caio é um conservador declarado. Esse embate ideológico vem
crescendo desde as manifestações de junho de 2013 e também com a eleição
presidencial de 2018. Por isso, o debate entre os dois gerou bastante
repercussão na Internet.
Tentarei não entrar no mérito das ideias que estavam sendo
discutidas (deixarei o vídeo aqui para quem quiser conferir). Vou descrever o
que senti.
O condutor do programa se sentiu extremamente desconfortável
com o que ouviu do comentarista. Por consequência sua reação foi desrespeitosa
com ele, interrompendo-o continuamente sem que pudesse concluir seu raciocínio.
Observei um embate emocional por parte do condutor e um embate racional por
parte do comentarista. E era neste ponto que queria chegar. Penso que o
condutor, ao ouvir as críticas ao progressismo, criou uma interpretação
própria, talvez de que todas as pessoas progressistas são más e satanistas.
Interpretou de forma emocional/pessoal e logo soou como uma ofensa. Mas a crítica
do comentarista reside na ideia e não na pessoa. É preciso entender que é
sobretudo um embate de ideias e pontos de vista e na verdade, é bom ouvir
ideias contrarias às suas. Elas que fazem questionar.
Outra reação foi evocar a ajuda dos comentários dos outros
participantes, que estavam de acordo com suas próprias convicções. Uma reação
covarde. Citações como: “ele tem muito a falar, ele está à flor da pele”,
invertem as sensações reforçando o lado emocional e não o racional. É um
diálogo que não prospera porque a dimensão individual não é a mesma da coletiva,
que abrange o campo das ideias. Tento ouvir de fora porque não vejo
concordância total com o que eu penso. Concordo e discordo em pontos sobre
todas as correntes. Por isso não quero expor as ideias mas explorar o comportamento
humano sobre elas. O debate caminhou para o lado pessoal, como o argumento de
que o comentarista era o participante que mais falava durante os programas.
Considerei um desrespeito também ao ouvinte. É isso que as pessoas em sua
“surdez” não conseguem perceber. Porém, infelizmente, é o que dá audiência.
Quando uma pessoa entende o controle do ego, consegue
perceber o que descrevi. Por mais que Edgard não concordasse, ele deveria
escutar e após se colocar, sem julgamento ao Caio, mas ao que ele estava dizendo,
ou seja sua ideia. Digo do controle do ego, porque a base de justificação dos
argumentos é praticamente a mesma de ambos os lados, tende ao apelo emocional e
realmente torna-se apenas uma disputa narrativa.
Link para o vídeo no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=x0Uk713zHjM
Nenhum comentário:
Postar um comentário